33 Depois de salvarem o mundo - Heróis - Capítulo 15

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Segunda Página do Diário (Parte 2/2)

Os cinco dias se passaram muito rápido, nesse tempo limpei três latrinas, varri dois quintais, limpei quatro chaminés e ainda roubei um bolo da casa de um nobre. O bolo estava delicioso, e como eu tinha ficado bastante ágil e conseguia correr mais rápido do que qualquer outro, ninguém conseguia sequer me ver entrando ou saindo.

Eu estava voltando para casa com uma cesta cheia de pães que eu havia recolhido do lixo, estavam mofados mas ainda eram gostosos, infelizmente não tanto quando o bolo. Quando cheguei na toca dos ratos havia uma carruagem me esperando, o cocheiro me explicou que eu não precisaria me preocupar com nada, banho, roupas, perfume, tudo seria por conta do castelo, tudo que precisava era subir, e que Zita me esperava.

Me despedi dos outros ratos com a promessa de trazer comidas gostosas, subi na carruagem e saímos, assim como Zita havia feito, fui até o fim da rua acenando para eles. Andamos bastante, atravessamos a cidade, quando passamos na frente da mansão onde eu havia roubado o bolo meu estômago roncou.

— Calma! — disse o cocheiro rindo — Lá terá bastante comida.

Eu sorri envergonhado, tinha trabalhado o dia inteiro e não havia comido nada, era normal estar com fome. Puxei um pedaço de pão mofado do bolso e mordisquei sem que o cocheiro visse, não dava para simplesmente esperar.

Eu estava cansado, então após comer o pedaço de pão caí no sono, acordando somente quando chegamos no castelo, quando a carruagem parou bruscamente e caí do banco. Saí ainda tonto, olhei ao redor, era tudo tão bonito e exagerado, haviam estátuas gigantes, torres gigantes, portas gigantes, escadas com tantos degraus que eu não tentaria contar, era um lugar exatamente oposto ao que eu estava vivendo.

Havia uma pessoa me esperando, por mais que eu não a conhecesse, ela sabia meu nome, era um homem de aparência idosa, cabelos grisalhos, e barba espessa, vestia uma roupa típica de empregado, ele me levou para um quarto previamente preparado, mandou que eu tomasse um banho e vestisse uma roupa elegantíssima, que estava pendurada em um cabide.

Após um banho bem demorado, com direito a muito sabão, limpando bem o meu corpo, coisa que eu não tinha feito por um ano, fui vestir a roupa, era um conjunto completo, desde roupa de baixo haviam sido preparadas, o mais legal foi que serviu direitinho, tinha uma calça, duas camisas, e mais uma espécie de casaco que apenas os nobres usavam, sapatos, meias, eu não usava sapatos há muito tempo, mesmo que não conseguisse lembrar de antes de chegar, tinha a sensação que não era acostumado com sapatos.

Me vesti, passei um dos perfumes que tinham para escolher, e fiquei esperando ansiosamente, após um certo tempo ouvi batidas na porta, fui abrir e encontrei o mesmo empregado que me trouxe até aqui, ele pediu que o seguisse.

Fui levado para um salão gigantesco, decorado com muitos lustres, castiçais, pinturas, estátuas, e um trono prateado com uma infinidade de pedras coloridas incrustradas. Haviam músicos tocando uma melodia suave, que me fazia sentir vontade de dançar, mesmo que não soubesse. Mas o que mais me chamou atenção foi a mesa gigantesca que estava sendo abastecida com centenas de pratos aparentemente deliciosos.

O meu anfitrião recomendou que eu aguardasse a chegada de Zita, a quem ele insistia em chamar de Elizabeth, enquanto isso eu poderia me servir da comida que quisesse. Não perdi tempo, fui direto para a parte da comida, comi tudo que pude e ainda separei algumas das que achei mais gostosas para levar para os ratos, afinal eu não esqueceria deles, eu era um deles.

— Eu recomendo você experimentar o leitão grelhado, se ainda tiver espaço para comida aí…

Virei para trás e vi um garotinho loiro, olhos azuis, mão estendida para me cumprimentar…

— Léo! Que bom encontrar você… — Eu disse enquanto o cumprimentava.

Ficamos conversando um pouco enquanto comíamos, ele contou coisas incríveis, como o fato de que todos tinham poderes, e ele era o mais forte, e podia criar pequenos raios capazes de fazer uma pessoa até desmaiar.

Zita era a terceira mais forte, ela podia criar fogo do nada e mantê-lo apenas pela própria vontade, o segundo mais forte em um chamado Jonas, ele podia criar escudos invisíveis para se proteger ou prender alguém, o único que podia quebrar os escudos de Jonas era Léo, e ele se sentia muito orgulhoso disso.

Pouco após Léo me contar isso, vi Zita vindo em nossa direção, ela estava com um vestido azul que parecia flutuar em torno do seu corpo, junto a ela vinham outras duas meninas, uma tinha cabelos pretos e curtos, com um vestido amarelo um pouco mais curto do que o de Zita, a outra também tinha cabelos pretos, porém longos, vestia uma roupa estranha, parecia um roupão de banho colorido, porém era a pessoa de postura mais elegante entre as três.

Estava muito diferente da garotinha assustada que conheci um ano antes. Sua expressão de medo, que guardei na memória, agora refletia alegria e um sorriso resplandecente. Parecia ter crescido muito nesse período, estava mais alta que eu. E seus cabelos castanhos arrumados em um coque estavam ainda mais lindos.

Quando me viu, Zita graciosamente pediu licença para as outras garotas, em seguida correu em minha direção, me puxou pela mão e gritou para Léo enquanto me arrastava para o meio do salão:

— Depois eu devolvo ele!

Eu estava me divertindo demais, enquanto Zita apontava para todos os lado me dizendo o que significava cada uma daquelas pinturas e estátuas. Ela também parecia se divertir me contando muito do que tinha aprendido, como se não sentisse saudade alguma da sua casa. De repente ela parou e me olhou sorrindo.

— Quer dançar? — Zita perguntou.

— O quê? — Eu me espantei.

— Dançar! Bora?

— Mas eu não sei!

— É fácil, eu te ensino.

— E se eu pisar no seu pé?

— Confia em mim! É só mexer pra um lado e pro outro, segue meus passos.

— Tá…

Eu não sabia dançar, mas aquela música fazia sentir vontade de me mover. Zita segurou minhas mãos e ficamos por alguns momentos nos movendo em círculos de acordo com o ritmo da música, não sabia se aquilo era dançar, mas era divertido.

— Que bom que veio. — Ela disse.

— Que bom que me convidou. — respondi. 

— Eu nunca esqueci da promessa que fiz. Na verdade, queria me desculpar por não poder realizar…

— Você disse que vai embora. 

— Sim. Cada um de nós vai para um lugar diferente para treinar nossos poderes e no futuro proteger o mundo.

— Isso é muito legal! Eu queria também ter um poder, ser um herói, ajudar a salvar o mundo… igual nas histórias que os bardos cantam.

— Mas eu não gosto disso de ser heroína. Queria poder fazer as coisas que gosto. Passamos o dia todo estudando e treinando, não podemos nem trocar de roupa sozinhos para não demorar. E a maioria do pessoal aqui é chato e ficam falando de política, guerra e casamento. 

— Casamento? 

— Sim… o príncipe veio falar que no futuro eu vou casar com ele. Mas eu nem gosto dele… e não foi namorar, foi casar mesmo.

— Que pessoal estranho. 

— O pior é que os adultos parecem não se importar com a minha opinião. Eu vou fazer quatorze anos, sou nova para casar. Nunca nem namorei, e já vieram com esse papo.

Zita estava puxando a conversa para um assunto triste, mas não era para isso que eu estava ali. Senti que era minha missão animá-la. 

— Você é incrível, tem um cabelo lindo, sabe fazer fogo com as mãos. Pode fazer qualquer coisa que quiser, não precisa de um monte de nobre metido te dizer o que fazer.

— Obrigado. Acho que precisava ouvir alguém me dizendo coisas positivas. 

— Se quiser namorar, namore. Se quiser casar, case. Mas… com quem você quiser.

—…

A música que tocava não tinha letra, apenas melodia, então sussurrei para Zita uma música que simplesmente me veio à mente, não sabia onde já tinha ouvido, mas com certeza dizia tudo sobre o que estava acontecendo.

“Como se o silêncio dissesse tudo

Um sentimento bom que me leva pra outro mundo

A vontade de te ver já é maior que tudo

Não existem distâncias no meu novo mundo

Tipo coisas da sétima arte

Aconteceu sem que eu imaginasse

Sonho de consumo, cantar na sua festa

Vem dançar comigo

Aproveita e me sequestra

Amor vagabundo, intenso ou muita pressa

Não sei como termina mas sei como começa”

Zita sorria, não sei se ela entendia o que aquilo queria dizer, afinal nem eu sabia, mas era muito bom. Por mim ficaria assim para sempre, queria que os meus companheiros da toca dos ratos também estivessem ali, seria perfeito.

Então tudo começou ficar lento, a música ficou distante, parecia não ter ninguém ali, só nós dois girando em câmera lenta, fechei os olhos, senti nossos rostos se aproximarem, minha respiração travou, suas mãos ficaram mais quentes, senti os lábios dela tocarem os meus, por um instante aquilo foi eterno.

Eu só não imaginava o que o futuro tinha reservado para nós.

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