Laços do Luar - Um novo mundo - Capítulo 0
Prólogo
O sol banhava as colinas verdejantes, e as flores, de todos os tamanhos e cores, reluziam como joias espalhadas sobre o tapete da terra. Sob a sombra de um velho carvalho solitário, ela estava lá — com seus cabelos negros dançando na brisa suave, e um sorriso que parecia conhecer todos os segredos do mundo.
Eu nunca soube o nome dela. Nunca precisei. Ela era sempre a mesma presença constante nos meus sonhos, uma promessa que nunca se quebrava. Olhava para mim com uma ternura que aquecia a alma, como se nosso encontro transcendesse o tempo e a razão.
Mas aquela paz era frágil demais.
De repente, o ar se rasgou. Um vento cortante invadiu as folhas, trazendo consigo um cheiro de queimado, pesado e sufocante. As flores começaram a murchar em segundos, como se a vida estivesse sendo sugada delas. O chão sob meus pés se partiu em estilhaços afiados, e a luz dourada se desfez em sombras pesadas.
Fui lançado para um inferno vivo.
Gritos de lamento e desespero inundaram meus ouvidos, misturados à fumaça espessa que cegava meus olhos. Lama vermelha, quente e grudenta, cobria o chão, manchando minhas botas. Ruas de pedra de uma cidade em chamas se entrelaçavam com o horror daquele cenário, e eu corria entre os escombros, guiado por uma única urgência: encontrá-la.
Eu não podia perdê-la — não de novo.
Corpos dilacerados jaziam espalhados, de todos os tamanhos, e a cada cadáver que eu via meu coração se apertava, esperando desesperadamente que não fosse o dela.
Então, lá estava sua silhueta.
Ela corria entre seis cavaleiros encapuzados, vestindo armaduras negras e capas vermelhas como o sangue fresco. Lobos famintos, prontos para abocanhá-la.
— Afastem-se dela! — gritei, minha voz rouca, o desespero quase me sufocando.
Quatro se voltaram para mim sem hesitar, as lâminas reluzindo ameaçadoras. Os outros dois a seguravam pelos braços, imobilizando-a.
Minha mente entrou em modo automático. Os movimentos fluíam sem esforço, como se fossem parte de um código gravado em meus músculos, como se a lâmina fosse uma extensão natural dos meus braços. Eu sabia, instintivamente, onde desferir cada golpe para derrubar o inimigo, mesmo sem nunca ter empunhado uma espada antes — ou talvez, só talvez, já tivesse.
Inclinei o corpo para trás e deslizei de joelhos sob a lâmina larga que buscava meu peito. Girei os calcanhares, chutando o tornozelo exposto. Ele caiu de lado. Torci seu punho, tomei a espada e a cravei nas costas, entre as placas da armadura — o estalo seco do metal abrindo caminho soou alto em meio ao caos.
Três outros vieram em sequência.
Desviei, bloqueei, cortei. Um deles cravou uma lança curta em minha panturrilha. A dor queima como fogo líquido, mas era o medo que me alimentava.
Gritei por dentro, e com um giro, cortei a lateral do pescoço do primeiro inimigo, vendo o sangue jorrar escarlate.
Rolei para o lado, atacando o pé do terceiro cavaleiro, rompendo seu tendão. Ele caiu na lama, indefeso.
Mancando, preparei-me para o golpe final, mas minha perna falhou.
Um chute brutal me lançou ao chão, minha carne sangrando. O inimigo retirou a espada lentamente, com sádica lentidão, e me atingiu o queixo com um chute feroz.
O mundo girou.
A lama acolheu meu rosto como um túmulo.
Meus braços e pernas pesavam como chumbo. O sangue escorria em rios quentes. A dor latejava, consumindo cada fibra do meu ser.
Tentei me levantar.
Mas o peso de uma bota esmagadora me prendeu ao chão como um inseto indefeso.
— Parem! — a voz trêmula dela cortou o caos, como uma lâmina de esperança.
Minha visão turva lutou para focar naquele rosto.
— Eu vou com vocês! — implorou, os olhos brilhando com lágrimas — Por favor, deixem-no viver. Por favor, meu amor… viva. Lembre-se de mim.
Nossos olhares se encontraram em uma última e desesperada promessa. Seus olhos de mel brilhavam na escuridão.
Estiquei o braço para ela — e pela milésima vez, meu corpo não respondeu.
Minha boca quis gritar seu nome.
Mas nenhum som saiu.
E a última coisa que vi…
Foi ela sendo arrancada de mim.
De novo.
TomSilva
Adorei