O Conselho das Estrelas - Volume 01 - Bem Vindos ao Conselho! - Capítulo 01

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O Primeiro Dia de Aula.

Agora, vamos ultrapassar a atmosfera terrestre e visitar o local que originou toda a existência: o universo. Lar de planetas, cinturões de meteoros e toda sorte de objetos celestiais, porém, a maioria das pessoas verão estes e outros elementos jogados de forma aleatória em um gigantesco painel obscuro que se estende para além do que se pode imaginar. 

    Essa não é uma interpretação errada. Todas as descobertas feitas pela humanidade equivalem a apenas cinco por cento do território espacial, enquanto a matéria escura preenche o restante. Mas, se você é alguém que acredita no extraordinário, verá as coisas do meu jeito. 

Aos poucos, perceberá os fragmentos de rochas se enfileirando, como uma força maior te convidando a trilhar a estrada metafísica até chegarmos ao nosso destino. 

    A poeira cósmica, esbanjando cores e tonalidades diversificadas, tremulou pelo ambiente como se quisesse guiá-lo. O brilho vibrante revelou detalhes minuciosos na estrada de pedras acinzentadas, que olhando mais de perto, formou uma majestosa ponte de mármore com listras azuladas.  

    Se forçar a imaginação mais um pouco, verá uma fonte de luz no meio do caminho, a intensidade capaz de infligir danos permanentes àqueles sem os óculos adequados. Estes orbes são encarregados de embelezar o céu terrestre durante a noite, também conhecidos como Estrelas. 

      Mas, deve estar se perguntando: como uma estrela está caminhando pela ponte que acabei de visualizar? Talvez, precise usar a capacidade máxima de suas habilidades criativas, assim, a viagem será mais interessante. 

    Se seguiu minha orientação, a verdadeira aparência da fonte luminosa tornou-se visível para você. Um belíssimo jovem caminhava pela ponte esbanjando muita confiança. 

    Os olhos castanhos fazendo contraste com os cabelos loiros arrumados de maneira encantadora e sobrepostos por uma cartola de laço vermelho. Vestia um sobretudo esbranquiçado com botões de estrela estampados nas mangas e o símbolo de um urso nas costas, além de carregar a fiel maleta de couro durante o percurso. 

— Olá Cosmo! — A voz masculina ecoou da luz que passou correndo pelo rapaz, e caso esteja vendo o mesmo que eu, se tratava de um homem com macacão azulado — Tenha um bom trabalho!

    Aposto que o fato das luzes se transformarem em pessoas na sua frente é algo muito inesperado, certo? Se olhar ao redor, verá que todas realizavam o mesmo processo, revelando centenas, senão milhares de rostos espalhados na imensidão do espaço sideral.

    Além disso, o rapaz de trajes chiques é alguém que admiro bastante. Enquanto respondia aos cumprimentos das outras pessoas, nem fazia ideia de que seria o foco desta história, situada no refúgio para as milhares de luzes que jamais se apagarão. 

— Olá pra você! E você também! Olá para todo mundo! — Com um sorriso contagiante, o rapaz estirou os braços e elevou as cordas vocais ao máximo para dizer… — Olá, Universo! 

 Ao entrarem em sintonia com aquelas palavras, as serpentinas de poeira cósmica se aglomeraram no final da ponte, realizando uma dança circular e solene até se dissolverem em milhares de partículas coloridas. Agora, você está diante do universo em sua verdadeira forma!

Os cometas, batizados como destruidores de planetas pelo imaginário popular, não vagavam sem rumo. Independente do tamanho, todos formavam um vasto arquipélago graças à conexão de inúmeras pontes listradas. Além disso, a face superior foi moldada em uma superfície plana e suscetível para a acomodação de casas, prédios e palácios gigantescos!

Você não leu errado. Se está procurando um templo oriundo da china medieval, moradias de aspecto futurista ou prédios em formato de espiral, irá se surpreender com as possibilidades de arquitetura e estética que somente pessoas como nós podemos visualizar. Mesmo assim, tudo foi criado com base no longo histórico de construções da humanidade. 

Essa pluralidade de ideias absurdas em pleno espaço sideral é o que chamo de lar, o mesmo não pode ser dito sobre as outras estrelas. Todos possuem uma tarefa importante a cumprir, inclusive o jovem de trajes elegantes, que seguia o caminho com um sorriso confiante e pressa notável. 

    — Ora, se não é o bom e velho Cosmo! — afirmou uma mulher ruiva que estava em uma ilha ao lado, pintando as colunas de um enorme casarão com uma essência avermelhada nas mãos. — Animado para dar aula de novo? Parece até que vai chover! 

— Você não faz ideia, Rana! — Cosmo respondeu animado. — Tenha um bom trabalho! Não vá manchar essa casa bonita com seus desenhos enfadonhos! 

— Que ousadia! Eu que sou a artista aqui, e… — A moça ficou tão vermelha quanto um tomate ao olhar o trabalho feito nas pilastras da fachada, e apagou tudo no mesmo instante. O que ela desenhou fica ao seu critério! 

    Cosmo poderia ter tirado sarro da colega, mas o objetivo de chegar a um determinado local era maior que qualquer situação que surgisse pela frente. Desse modo, tomou cuidado para não esbarrar na quantidade exorbitante de colegas que realizavam o mesmo trajeto. 

Nem mesmo o ronco frenético dos carros abaixo da ponte listrada conseguiu distraí-lo. Não havia motivos para se preocupar com o trânsito e os engarrafamentos intermináveis, visto que os meios de circulação entre estrelas e veículos foram separadas pelas nebulosas.

    As nuvens formadas de poeira estelar, gases e plasma englobava todas as variações de cores do círculo cromático e levou milênios de trabalho árduo até transformá-las nas estradas por onde circulam mercadorias e passageiros, além de proporcionar as belíssimas imagens captadas pelos telescópios da Terra.

    — Então, eu lhes pergunto… — disse uma voz ecoando da ilha mais próxima, de maneira firme e polida — Provocações mesquinhas são realmente necessárias? 

    Uma bela mulher de cabelos verdes, rabo de cavalo e vestido branco discursava em um púlpito, enquanto a arquibancada de ouvintes se satisfaziam com o vocabulário rebuscado e o conhecimento que recebiam naquele momento. 

— Apesar de muito discutida, a humanidade não se desenvolveu intelectualmente para o primeiro contato com outras raças. Houve inúmeras tentativas de invasão à Terra e, se não fosse pela nossa formidável equipe de seguranças, nossos futuros colegas viriam de um planeta escravizado e seriam mais animalescos que a fera mais indomável da… 

Sua autoridade caiu por terra quando encarou a plateia, que não lhe deu ouvidos desde que um elemento peculiar tomou conta do céu. 

Ao longe, uma rocha gigantesca deixou rastros de faíscas ao redor, mas não havia risco algum de cair na arquibancada pela ação de um valente grupo de estrelas, posicionadas nas laterais e por baixo do objeto. 

— Não se preocupem, cambada. O Halley tá sob controle!— gritou um homem com chapéu de vaqueiro, montado em cima do cometa o tratando como um cavalo desobediente. — Bão trabalho a todos. Pra ocê também, Pequeno Cosmo! 

— Obrigado, Rigel. Tente não quebrar nada! — Depois que a poeira baixou, Cosmo viu que a palestrante estava quase arrancando o cabelo por conta da interrupção, e deu uma pequena “colher de chá” a ela  — Foi um belo discurso, Senhorita Camélia… Até mais tarde!

… 

   Após uma longa caminhada repleta de rostos familiares e situações inesperadas. Cosmo finalmente chegou ao seu local de trabalho: uma construção esférica batizada de A Cúpula da Iniciação. 

— Desta vez, tudo vai dar certo! — Com muita rapidez, o rapaz subiu as tiras azuladas que surgiam de maneira ordenada, formando a escada que o levou à entrada do local. 

    Por dentro, havia um grupo de seis carteiras moldadas em diamante e grades prateadas com vitrais brilhantes, cuja abertura dava a todos os presentes a vista esplendorosa de uma gigantesca esfera dourada, com labaredas tremulando pela superfície. 

    Cosmo colocou a maleta em cima da mesa e se dirigiu ao centro da cúpula, onde havia um pequeno sino moldado em cristal. Não pensou duas vezes antes de tocá-lo e esperou o ciclo de doze badaladas terminar, anunciando para todos o início do novo “ano letivo”.

    De repente, quatro estruturas de cinco pontas triangulares surgiram da esfera flamejante e voaram em direção ao domo, liberando partículas coloridas por onde passavam. Você deve conhecer tal objeto como a representação clássica das estrelas feitas pelos humanos, mas aqui, são receptáculos que guardam a nossa verdadeira essência. 

— Ei, cadê o Wi-Fi desta coisa? Acabou de vez! — gritou uma garota que jogou o celular nos vitrais. Seus cabelos rosados presos por maria-chiquinhas, usava uma gargantilha de coração no pescoço, camiseta branca, luvas listradas, além da saia quadriculada de vermelho e preto — Ai caramba, isso é um uniforme de empregada autêntico?

A pergunta foi direcionada para um homem moreno que sentou-se ao lado dela. A postura curvada dava-se pela carteira ser pequena demais para alguém alto e de musculatura bem definida, o que o obrigou a reunir todas as forças para, ao menos, desprender os braços.

— Não saia daí, preciso tirar umas fotos! — A garotinha respondeu com muita empolgação, e saiu da carteira em busca do colega inseparável. 

— C-Caramba! — exclamou um rapaz asiatico de paletó surrado, após acordar com os gritos  — Que sonho doido é esse?

— Ei, você aí! — O homem corpulento vociferou — Me dá uma mãozinha, fazendo um favor! 

— T-Tudo bem! Eu só não sei como vou… 

Enquanto o rapaz planejava uma maneira de tirar o moreno daquele infortúnio e a pequenina balançava o telefone para garantir o bom funcionamento, o quarto integrante permaneceu em sono profundo. A fisionomia de um idoso com jaleco de médico, desprovido de fios capilares e com a cabeça apoiada sobre a mesa como o bom aluno que perde o interesse nas aulas com muita facilidade. 

E no meio daquele caos, estava Cosmo. Ver aquela cena se desenrolar por muito tempo faria o coração errar uma batida e perder toda a empolgação de momentos atrás, pois desta vez, tinha certeza que a seleção da turma foi um tanto… Inesperada. 

Mesmo assim, ele manteve o sorriso, e saudou os novos alunos em um tom solene:

— Sejam bem-vindas, Estrelinhas! O meu nome é Cosmo, e serei o professor de vocês no módulo de integração do Conselho das Estrelas!  

Os três novatos se aquietaram no mesmo instante, não sabendo como reagir ao fato de não notarem a presença do rapaz de trajes elegantes, bem como o aspecto peculiar do local onde estavam. 

— O Conselho do quê? — questionou o homem vestido de empregada doméstica. 

— O Conselho das Estrelas, a primeira e única empresa intergaláctica e o lugar onde toda a existência começou! — Durante o monólogo, as mãos de Cosmo emitiram um brilho azulado e uma densa camada de fumaça se alastrou pela cúpula — Vejam com seus próprios olhos. 

    O local seria jogado na profunda escuridão se não fosse pelos orbes luminosos que surgiram num passe de mágica, pegando o trio de surpresa. Logo, perceberam que o rapaz de trajes elegantes mexia os braços com muita rapidez, como se realizasse um tipo de encantamento que eles nunca viram antes. 

Com um estalar de dedos, o chão foi tomado por hologramas cristalinos de casas, prédios e outras edificações por cima dos temidos asteroides. Era possível ver os veículos circulando pelas estradas de nebulosas, bem como representações de funcionários dedicando o suor e determinação para realizarem seus respectivos trabalhos. 

E como detalhe, a representação da esfera flamejante flutuava por cima das cabeças do grupo, chamando a atenção pelas labaredas tremulando ao redor e a importância destacada em comparação à “maquete” formada diante de seus olhos. 

— Por milênios, as estrelas se dedicam em manter a ordem e estabilidade do universo, das suas galáxias e planetas. Agora, os quatro foram escolhidos a dedo para fazerem parte desse glorioso propósito! — Com outro estalar de dedos, Cosmo fez o holograma se dissipar em poucos segundos — Antes de começarmos, gostaria muito de conhecê-los! Quais são os seus nomes? 

Nenhum dos alunos sabia qual era a melhor forma de responder Cosmo. Se aquele não fosse um truque de mágica bem elaborado, tinham certeza que aquilo era nada menos que um sonho. Talvez, se dançassem conforme a música, iriam acordar cedo ou tarde. 

— O meu nome é Laurindo — afirmou o homem musculoso, de forma curta e direta. 

— Você se chama Laurindo? Que exótico! — a garota de maria-chiquinhas respondeu, se contorcendo de empolgação na carteira — Eu sou Luna, ou Lunafreya2408 para os mais chegados. Prazer em conhecê-los! 

— O-o meu nome é Sugiru. Sugiru Kimi… Kimima… 

— Está tudo bem, meu garoto? — Cosmo perguntou — Você parece ter dificuldade para falar o seu… 

— Vai por mim, é-é melhor deixarem meu sobrenome de lado! Talvez o homem do meu lado possa… — O rapaz de paletó surrado se virou, incomodado pelo dever de introduzir o velho dorminhoco à conversa. 

— Dá um sacode nele, isso vai ser ótimo! — disse Luna, ativando o flash da câmera do telefone para iniciar uma gravação. 

— Vai em frente, Japinha. Aposto que esse cara tem uma mordida poderosa, mesmo que use dentadura! — debochou Laurindo. 

— M-mas eu… 

— Não precisam assustá-lo, Estrelinhas! — O professor fez um gesto de mão, fazendo Luna e Laurindo se calarem no mesmo instante — Deixem que eu faça isso. É preciso ter muito cuidado com pessoas mais velhas… 

No momento em que a mão do professor repousou sobre o ombro do idoso, uma sensação de urgência lhe atingiu em cheio, como se o simples toque fosse o suficiente para colocá-lo em perigo. A suspeita foi confirmada assim que a cabeça se levantou da mesa, revelando a testa franzida, o bigode grosso acinzentado e o par de olhos afiados como pontas de lança.

Em seguida, o braço direito do idoso se levantou com rapidez, o movimento de arco na intenção de despejar a fúria da soneca interrompida no professor ao golpeá-lo com uma bengala de madeira. Ele recuou antes que a ponta do objeto pudesse causar o mínimo rasgo no sobretudo elegante. 

— Eu não sou velho! — O homem urrou, a voz ecoando por todos os cantos da cúpula. O quarto aluno finalmente deu as caras. 

…

— Eu sinto muito em te assustar, meu senhor… Só queria te acordar para que pudesse se apresentar aos seus colegas de turma!

— Doutor Ludovico Epaminondas Terceiro. Está satisfeito? 

— Bom… Eu acredito que teremos muito tempo para nos conhecermos melhor! O que acham de vermos a grade curricular? É importante que estejam cientes do que irão aprender no quesito teórico e o desenvolvimento de suas habilidades mágicas. 

— Espera um pouco — disse Epaminondas, esfregando as têmporas — Você me acorda contra a minha vontade, e agora fala de “Grade Curricular” como se eu tivesse voltado ao jardim de infância? Que palhaçada está acontecendo? 

— Você acabou perdendo um pouco da explicação, senhor… 

— Dou-tor! 

— Doutor Epaminondas, eu garanto que vou explicar tudo que precisam saber a respeito da nossa empresa, e irei ajudá-los a decidir que carreira seguir! Fiquem tranquilos e confiem em mim, pois estarei junto com vocês em cada passo do caminho, tudo bem?

Houve um momento de silêncio na Cúpula da Iniciação, com Sugiru, Laurindo e Luna cochichando entre si se poderiam depositar uma confiança em alguém que acabara de conhecer. Epaminondas, por outro lado, manteve os olhos fixos em Cosmo o tempo inteiro, analisando cada gesto ou fala para antecipar o primeiro deslize. 

E o professor, novamente, foi obrigado a assisti-los enquanto aguardava uma resposta. O primeiro dia de aula é a parte mais difícil de todo período letivo, visto que cada aluno possui suas próprias dificuldades e aptidões. Dependia apenas dele em se adaptar nos mais diversos casos e trabalhar para que todos se desenvolvessem da mesma forma. 

Ele percebeu que a adaptação levaria mais tempo em comparação às outras turmas na qual ministrou, mas tudo que precisava era do voto de confiança para que as engrenagens começassem a girar. Quem sabe, o velho e carrancudo Epaminondas dê o braço a torcer e possa… 

— Não. — respondeu Luna, quebrando todas as expectativas. 

— Não? Eu não entendi o que quis dizer com isso, Luna…

— É o seguinte, colega charmoso — complementou Laurindo — Estamos numa cúpula à deriva no espaço sideral e você lança uns poderzinhos bem maneiros. Isso certamente é um sonho! 

— Exato! — concluiu Sugiru, que abaixou a cabeça ao ver que se exaltou demais — Q-Quer dizer, tudo que precisamos fazer é esperar o despertador que vamos acordar desse sonho maluco… 

— Isso não é um sonho, meu caro Sugiru. Uma vez dentro do Conselho, não há como sair. Este é o destino de todos vocês. 

— Eu concordo, isso não parece ser um sonho… — respondeu Epaminondas de maneira branda, provocando um pequeno suspiro de alívio de Cosmo — Isso é um sequestro! 

— O quê?! — O rosto de Cosmo empalideceu mais que a superfície da  Lua. 

— Esse homem de fala simpática e truques impressionantes não passa de um gatuno que capturou quatro pessoas inocentes para fazer parte de um showzinho doentio! Vocês realmente acreditam que ele é mágico e que estamos no espaço sideral? Façam-me o favor e deixem de ser tão estúpidos!

— Isso é desacato contra um funcionário de bem, Doutor Epaminondas. O Conselho das Estrelas não tolera esse tipo de comportamento!

— Então seu grupo criminoso tem nome? Aí vai um conselho para você: Não se meta com Ludovico Epaminondas Terceiro! — O velho retrucou, batendo na mesa — Diz que é desacato para o juiz! 

— Vários reinos de Netuno tentaram fazer isso, e é simplesmente impossível processar a única cooperação intergaláctica da história! 

— Então você admite que a empresa é uma gangue criminosa! — concluiu Laurindo.

— N-Não! Eu jamais…

— Eita… Exposed do professor! — Luna balançou o celular outra vez, na esperança de ativar a câmera para registrar o caos em primeira mão. 

  Os nervos estavam à flor da pele na Cúpula da Iniciação e o pobre Cosmo tentava manter o controle da situação. Ele já perdeu a conta de quantas vezes teve que lidar com as reclamações da própria turma antes mesmo das aulas começarem, e sabia que precisava dar explicações à eles sobre o que realmente estava acontecendo. 

Após um breve suspiro, a entonação de Cosmo ficou mais séria, pois o momento exigia bastante paciência e o uso correto das palavras. Um simples deslize jogaria o período letivo inteiro por água abaixo. 

— Está bem, eu vou falar a verdade. Iria poupá-los disso logo em nossa primeira aula, mas não tenho escolha… — Com um leve estalar de dedos, a fumaça azul tomou conta do recinto outra vez — Vou mostrar a vocês como as estrelas são feitas. 

Quando a cúpula escureceu, as partículas azuladas formaram a imagem de uma criança que, apesar de simplificada, mostrava o cabelo ondulado, uma boina, o conjunto simples de camisa branca e calça com suspensórios. Assim, o holograma foi se moldando conforme as palavras do professor.    

— Essa é uma garota normal como qualquer outra, com sonhos, ambições, medos e incertezas… A infância passou, ela atingiu a maioridade, e os anos vão passando sem que a gente perceba o tempo que estamos perdendo. A infinidade de planos não realizados, as tentativas fracassadas de atingir algo maior, são sentimentos que a acompanharam durante a velhice até que, assim como tudo no universo, o ciclo dela chegou ao fim. 

A imagem da mulher, agora deitada num leito de hospital, se dissolveu em poucos segundos, as fagulhas luminosas se amontoando pela mão esquerda do rapaz elegante. 

— No fim, ela estava com medo, confusa, incerta do que veria depois. Mas a dor e as dúvidas foram embora assim que viu ele pela primeira vez. 

Ao estender o braço em direção aos vitrais, a essência azulada não perdeu tempo e fez a fumaça se dissipar, proporcionando aos quatro alunos a vista privilegiada que poucos astronautas tiveram e sobreviveram para contar a história: a gigantesca esfera flamejante reconhecida por toda a galáxia.

— Vocês o conhecem como Sol, mas aqui o chamamos de O Ancião, a maior autoridade do nosso Conselho. Aquela alma sortuda foi escolhida por ele para moldar o futuro no qual estamos hoje. Desde então, quando os humanos concluem o ciclo da vida, um novo começa logo em seguida, eles ascendem aos céus e são mandados para cá…

    — Cara, você não pode estar falando sério! — comentou Laurindo incrédulo. 

— Exato, — afirmou Cosmo dando um leve suspiro. — Vocês quatro estão mortos, e este é o que chamam de Pós-Vida, o destino final de todos nós. 

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