O Conselho das Estrelas - Volume 01 - Bem Vindos ao Conselho! - Capítulo 05

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O Santuário das Estrelas.

— Ei, eu sei me virar sozinho! — Cosmo protestou — E larguem a minha câmera! Não é brinquedo para vocês ficarem mexendo! 

    Não importava quantas vezes pedisse, as Ursas Menores continuariam o atormentando até chegarem no fim do corredor, tirando fotos para tirar sarro. Pela velocidade daquela “caminhada”, o tempo passou mais devagar e o túnel de paredes adornadas parecia se estender como um buraco de coelho. 

    As orbes roxas traziam beleza à temática vitoriana do local, junto com um aroma agradável de mel e girassóis. Porém, o luxo interminável do corredor parecia testar a paciência de Cosmo, assim como o riso incontrolável de suas anfitriãs.

— Terrível, horrível, impensável! — As meninas repetiam as mesmas palavras com insistência. A ansiedade de se livrarem do rapaz era tão grande quanto a de qualquer aniversariante prestes a destruir uma pinhata. 

   Após a enxurrada de risos, uma luz dourada no horizonte indicou que estavam próximos da saída, e demonstrando o respeito que tinham pelo professor, o trio resolveu se despedir à moda antiga, dando um grande empurrão que o jogou no chão. 

— E lembre-se otário, se perder a aposta, você já era! — E após isso, as Ursas Menores deram as costas para o rapaz e retornaram ao escritório. Era possível ouvir os risos de deboche ecoando pelo corredor.

    Aquele que se portava como um rapaz elegante teve que se contentar com a poeira destruindo a beleza de suas vestes esbranquiçadas, mas havia uma razão para isso. Cosmo analisou o ambiente por alguns segundos e lembrou que os pedaços de metal espalhados pelo chão pertenciam ao portão de entrada.

    A passagem dos Flarkianos foi tão rápida que o derrubou sem qualquer cerimônia, revirou vários bancos e rasgou parte da belíssima decoração na sala de espera. Coube aos zeladores o dever de arrumar a bagunça antes que a fúria da Diretora caísse sobre aqueles que não mereciam.

    Com muita precisão, levitavam os detritos graças a energia telecinética nas mãos, e os colocavam dentro de uma pequena bolsa esférica que podia carregar toneladas de lixo sem o risco de arrebentar.

— Ei garoto, você teve sorte de levar só um empurrão. — Falou um dos zeladores, de bigode e cabelo grisalho vestindo um manto acinzentado. — Tenho um amigo que saiu todo mordido e ficou internado por um tempão! Se eu pudesse, mandava prendê-las num canil! 

    Cosmo até quis respondê-lo, mas optou por não fazê-la graças a quantidade de coisas que precisava assimilar depois da reunião. Por isso, tirou a cartola para cumprimentar os três profissionais e saiu andando, sem dizer mais nada… 

… 

    Os passos vagarosos do rapaz evidenciaram que o corpo ainda estava se recuperando do efeito assombroso que as ordens da Ursa Maior lhe proporcionaram, e além disso, ser arrastado para fora do escritório contra a vontade não foi a experiência mais agradável de todas.

    Parecia que o nosso professor tinha saído de um confronto no bar ou atropelado por uma locomotiva em alta velocidade. Tais analogias nada mais eram que tentativas do cérebro lidar com o exército de pensamentos martelando sobre como havia se metido na maior enrascada de sua pós-existência.  

    Enquanto caminhava pelo jardim na frente do casarão, ele se tornou o centro das atenções. As pessoas ao redor ignoraram os canteiros de girassóis e chafarizes com a figura de um urso pardo somente para ver o professor agindo como um verdadeiro pateta, na busca de uma resposta que fosse de grande utilidade na situação atual. 

— Não se preocupe Cosmo, você consegue resolver isso! Talvez seja difícil porque eles vão ficar muito agitados… E se não tomar cuidado, vou receber a culpa por destruir um terço do Conselho e a Ursa vai me banir do pior jeito possível… Mas tudo bem, eu não sou de desistir tão fácil!

    Acontece que pensamentos positivos não tinham a capacidade de fazê-lo ignorar o quanto a situação era séria. Nenhuma estrela em sã consciência teria coragem de desafiar a Ursa Maior para uma aposta, e a reunião com o casal de Flarkianos mostrava o que acontecia com aqueles que entrassem em seu caminho. 

Independente de quais métodos fossem utilizados, se provocasse outra Supernova, seria o primeiro funcionário banido do Conselho das Estrelas e ridicularizado pela galáxia inteira.

— Desse jeito eu não vou conseguir! — Cosmo reclamou, parando no meio da ponte que conectava o casarão da Diretora com outra ilha — Acho que vou precisar de ajuda, desta vez… — O rapaz fez uma careta só de pensar nessa hipótese.

Como professor, ele deveria ser a pessoa que auxilia os outros com seus problemas e não aquele que clama por socorro no primeiro momento em que as coisas dão errado, mas tempos urgentes exigiam medidas que estivessem à altura da situação.

Cosmo até pensou em procurar Antares, mas no fim optou por não incomodá-la. Como segurança, era normal que estivesse muito ocupada zelando pelo bem estar de todas as estrelas ou cuidando das Ursas Menores quando a Diretora precisava sair. 

— Espere um pouco… — Depois de alguns segundos ponderando, o rapaz recuperou o ânimo como se uma lâmpada imaginária tivesse acendido na cabeça — Eu já sei quem pode me ajudar! Essa vai ser uma viagem bem longa, mas valerá a pena visitar um velho amigo — E com muita determinação, saiu em disparada até o seu destino. 

    Dado à carga de trabalho infinita, o fluxo de estrelas caminhando até os respectivos setores era tão grande que Cosmo não parava de pedir desculpas ao se espremer no meio da multidão. Com todas aquelas pessoas, era estranho imaginar que o Conselho estava sofrendo com o déficit de funcionários…

    Ele ignorou todas as reclamações e chegou a outro local de grande importância em nossa instituição: a estação das Serpentes Siderais. Uma ilha repleta de tubos por onde as estrelas aguardavam a chegada de locomotivas prateadas com quatrocentos vagões acoplados, com esse número variando de acordo com a linha que deseja pegar. 

Se essas descrições soam familiares, você está totalmente certo. As serpentes são representações do transporte coletivo terrestre, e como sabemos bem, a jornada tende a ser longa e muito apertada. Um desafio que Cosmo estava determinado a superar. 

Ele teria o máximo de paciência para tolerar a falta de espaço e conversas paralelas que não iriam lhe agregar em nada, pois estava indo para o lugar mais importante de toda a filial: O Santuário das Estrelas! 

… 

    Do lado de fora, temos a visão magnífica de uma torre esculpida em bronze e com o formato de um triângulo, a base larga e arredondada que ia afinando até chegar no topo. Sua altura era tão imensurável que tornou-se impossível de ver a ponta da estrutura, pois se olhar para cima, terá a leve impressão do tecido da realidade sendo rompido!

    Era possível ver uma dúzia de arcos luminosos ao redor, que serviam para conectar os diferentes andares da torre. Era como se Saturno tivesse roubado os anéis de outros satélites e criado um bambolê planetário. Se isso te impressionou, saiba que o interior segue o mesmo padrão de qualidade. 

    Assim que atravessou o portão de entrada, o jovem astro percebeu que o salão principal estava vazio como de costume. Apesar de ser bonita e bem arrumada, a recepção era um lugar pequeno, tendo espaço para a cabine e duas portas laterais que levavam à primeira divisão do complexo.

A recepcionista do local, uma mulher tão alta que supera os melhores jogadores de basquete, vivia de mau humor graças ao ambiente inapropriado que lhe foi designada. Ela precisava ficar de joelhos se quisesse atender os visitantes e deixar as madeixas do cabelo loiro por baixo do blazer cinza para não causar desconforto. Era como se todos os dias de trabalho fossem uma longa e entediante segunda-feira. 

— Com licença, estou procurando o Santuário das Estrelas, sabe me dizer onde fica? — questionou Cosmo ao olhar para cima e ver a recepcionista tentando se ajeitar na cabine.

— Ele fica no quadragésimo andar, mas estamos com problemas nos elevadores. Você terá que subir pela Linha do Tempo para chegar até lá.— disse a mulher, tentando pegar um caderno de anotações da mesa sem forçar os braços esguios como macarrão. — Mais alguma coisa?

— Isso é tudo. Muito obrigado Madame… Laxis! — disse Cosmo, lendo o crachá da moça — Eu espero que te arranjem uma sala maior!

— M-mete o pé daqui garoto, não tenho tempo pra conversa fiada! — Mesmo agindo de forma arrogante, a recepcionista abriu um sorriso tímido ao ver o professor saindo da recepção.

…

    Mesmo que o caminho mais rápido até o quadragésimo andar fosse o elevador, Cosmo pensou que perambular pela Linha do Tempo seria uma boa distração até lá. Afinal estrelas não sentem cansaço, outra vantagem do Pós-Vida. 

    Neste lugar, todos os acontecimentos que marcaram o Conselho das Estrelas ficaram eternizados nos diversos quadros posicionados em ordem cronológica, exceto nos primeiros momentos após o Big Bang. Nem mesmo o Ancião, maior figura de autoridade da Via Láctea, sabe de tais informações. 

    Mas, para compensar, Cosmo teve um vislumbre de momentos marcantes da nossa corporação, como o quadro que retratava a contratação da constelação que cuidaria da filial de Urano. A jovem de orelhas pontudas, mechas castanhas e olhos coloridos transmitia uma beleza inconfundível, além de muita sabedoria por segurar o pêndulo da justiça na mão direita.

    Assim como a Ursa Maior, os outros diretores eram figuras tão respeitadas que muitas estrelas moveriam céus e terra para receberem um pouco de reconhecimento, algo que Cosmo percebeu mas pessoas que encaravam a mulher com profunda admiração. Ele faria o mesmo se não tivesse um propósito a cumprir, então seguiu em frente. 

    Dentre os quadros, outro que chamou a atenção foi a batalha entre dois homens, o primeiro se vestia como um caçador e apontava sua escopeta contra o segundo, cujos olhos estavam tapados por uma máscara de corvo. No centro, uma figura não identificada estava dividida entre as cores azul e vermelho, como se uma única força estivesse influenciando ambos os lados ao mesmo tempo.

    Relatos afirmaram que foi um duelo entre a arte da caça e a busca insaciável por conhecimento, onde depositaram todas as fichas em uma empreitada que apenas um deles sairia vitorioso. O resultado desse fenômeno é discutido até hoje, inclusive pelos próprios diretores. 

    Ver tantos acontecimentos históricos fez a caminhada passar voando, e quando o rapaz percebeu, já estava no quadragésimo andar, contornando a direita para entrar em uma porta dourada que levava ao Santuário das Estrelas.

… 

    Se o ato de subir um prédio de quarenta andares era loucura para um ser humano comum, o jovem Cosmo não ficaria acovardado com a estatura infinita do santuário. Ao atravessar os portões dourados, sentiu que o corpo ficou mais leve que uma pluma, permitindo que ele flutuasse pelo local sem complicações.

    Apesar do local ter uma estrutura triangular, o local se parecia com um cilindro gigantesco, cujo topo não podia ser visto graças à altura colossal. Ao redor, milhares de luzes misturavam as inúmeras variações de tons do círculo cromático ao passo que eram enfileiradas por figuras de manto acinzentado. 

    Em pontos aleatórios, algumas das fontes luminosas adentravam no local por uma entrada hexagonal, e eram jogadas para o fundo pela correnteza tranquilizante, formando cascatas vibrantes. O barulho da água transbordando trazia uma sensação de paz à Cosmo, algo que estava precisando depois de tudo que passou até agora. 

    No térreo, um pequeno lago que nunca se enchia abrigava a gigantesca estátua de um anjo no centro. A figura de mármore segurava aquela estrutura poligonal de cinco arestas pontiagudas referentes ao receptáculo que guarda a essência de todas as estrelas.

    Assim que alcançou o fundo, os orbes coloridos entraram no receptáculo de maneira enfileirada, o que deu brecha para um outro grupo de pessoas encapuzadas se renir ao redor do monumento angelical. 

    — Essência da criação, fonte de energia para todos os seres vivos, purifique essas almas que perderam o dom de sua graça, e na ausência delas, traga alento para aqueles que um dia tanto amou… — Essa frase foi repetida algumas vezes, até que a estrutura pontiaguda começasse a brilhar. 

    Enquanto o grupo seguia o dialeto, uma infinidade de receptáculos surgiram das mãos da estátua e ascenderam aos céus, deixando o rastro colorido por onde passavam. O trabalho de apanhá-los ficou a cargo dos encapuzados que flutuavam nos andares superiores, na finalidade de catalogar cada um deles e achar espaços disponíveis para exposição. 

    Cosmo ficou boquiaberto ao presenciar o trabalho daqueles funcionários, o processo misterioso e belo referente à criação dos receptáculos. Agora, ele tinha mobilidade de sobra para flutuar entre as dependências do Santuário das Estrelas na busca de seu grande amigo. 

    Ele poderia estar em qualquer lugar do santuário, e levaria séculos para encontrá-lo. Mesmo assim, Cosmo não estava preocupado em perambular um pouco. Os funcionários nem se importaram com a sua presença e seguiram com seus ofícios, o que era estranho sendo que o amigo dele iria reconhecê-lo em questão de segundos. 

    A verdade era que esta pessoa não era uma das pessoas encapuzadas, mas estava no meio das luzes que rodeavam o Santuário. Um objeto em específico tinha o tom de vermelho mais vibrante do ducentésimo décimo terceiro andar, como se estivesse aguardando o jovem desde o começo. 

A frase “Scallix, um homem querido” ficou estampada na superfície cristalina, e seu brilho era inconfundível . Cosmo sabia quem estava dentro do receptáculo.

— Olá Seu João, a quanto tempo… 

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