O Conselho das Estrelas - Volume 01 - Bem Vindos ao Conselho! - Capítulo 09

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A Luz Que Caiu do Sol.

    Toda empresa possui um presidente, a figura de maior autoridade, detentora de conhecimento técnico e responsável por todos os departamentos. Por estar muito ocupado com este gerenciamento, ele passa a maior parte do tempo preso à mesa do escritório lotada de documentos, cumprindo diversos compromissos como reuniões, planejamentos e dar a palavra final em decisões importantes.

    Mas quando resolve dar as caras… É um evento histórico.

    Milhares de estrelas foram pegas desprevenidas com o despertar de um dos seres mais poderosos da Via Láctea. Os curiosos formularam hipóteses sobre o que iria acontecer, enquanto os desleixados rezavam para que as besteiras feitas no ambiente de trabalho não fossem descobertas. 

    E para a surpresa de uma galáxia inteira, algo peculiar estava acontecendo no topo da Grande Morada, e os nervos se intensificaram no mesmo instante. Partículas coloridas se uniram à dança suave das labaredas alaranjadas, que seguiram unidas até o topo onde se fundiram em um orbe de energia. 

A diferença de tamanho do objeto com a gigante progenitora era comparável entre uma bola de tênis e outra de futebol, mas tinha luz suficiente para chamar a atenção dos funcionários.

    O queixo de muitos estava prestes a cair, os olhares admirados de súditos presenciando o nascimento do filho do rei. Minutos depois, a aura amarelada tornou-se um feixe de luz no momento que o orbe se lançou aos céus, indo para longe de sua criadora. 

A pressão angustiante havia cessado e a Grande Morada voltou ao silêncio absoluto, pois as estrelas ficaram hipnotizadas pela esfera despencando em alta velocidade. 

    E no meio da comoção estavam Cosmo e Antares, dois amigos que passaram por muita coisa desde que nossa história começou. Ambos perderam o foco nos objetivos quando o Ancião se manifestou, e ficaram paralisados enquanto o orbe cortava o vácuo sideral como um meteorito invadindo a órbita da terra. 

— E-eu não esperava que isso fosse ocorrer tão cedo! — Antares teve certa dificuldade de expressar as palavras certas por conta dos últimos acontecimentos. — Eu preciso avisar a Ursa, m-mas como fazer isso se está em reunião? Pense Dani, como você…

— Eu sei que você pode cuidar disso, amiga! — disse Cosmo, apoiando as mãos nos ombros da amiga — Você e os outros seguranças podem ir atrás do orbe.

— Mas como vou saber se você não…

— Se não vou te passar a perna com o passe? Deixe isso pra lá! Eu vou esperar aqui enquanto resolve essa questão, depois conversamos sobre o faremos com o meu problema. Tudo bem?

Um simples aceno com a cabeça foi o bastante para selar o acordo entre os dois companheiros. A discussão que resultou no colete rasgado ficou para trás, e a urgência de responder ao chamado do Ancião na ausência da Ursa Maior tornou-se prioridade. 

— Todos os seguranças do Arquipélago, sigam aquele orbe! — afirmou Antares através de um comunicador retirado do colete e correu na direção do carro. 

Os Zeladores teriam muito trabalho para limpar os escombros do portão amassado, mas Antares conseguiu retirar o veículo da bagunça e entrar na rodovia principal. Ela não iria esperar por nada e ninguém, mesmo que metade do universo fosse implorar por isso.

    Cosmo não deveria se preocupar com a velocidade que a segurança operava o veículo ou se estava indo na direção correta, pois iria com ela mesmo que não tivesse a mínima intenção. Ele soube disso quando olhou os próprios pés. 

    As correntes o liberaram do cárcere prateado, mas ficaram jogadas entre os sapatos até receberem a ordem de acompanhar a sua portadora. Quando fizeram isso, a velocidade de movimento formou um nó no calcanhar do professor, e a partir daquele momento, uma nova confusão se iniciou.

Cosmo sentiu o mundo ganhar velocidade quando foi puxado, e agradeceu aos deuses da criação pelas estradas de nebulosa serem tão macias como um travesseiro plumado. Se fosse o oposto, veríamos seus restos espalhados na rodovia.

— Onde vocês estavam? Estão pesadas, o que estão… C-Cosmo? — Os olhos de Antares ficaram arregalados com a cena. Ver o amigo balançando como uma barata tonta foi uma cena que nunca imaginou em presenciar. 

— Pa-pare esse ca-carro!  — afirmou Cosmo com a voz trêmula.

    Atendendo ao pedido desesperado, a mulher diminuiu a velocidade para Cosmo cair no banco do passageiro sem qualquer arranhão, e assim que o fez, o pobre coitado viu meteoritos rodopiando pela cabeça enquanto as correntes tiravam sarro da situação. 

— O que deram em vocês? Iriam matá-lo dessa forma! — A reprovação de Antares não foi o suficiente para encerrar os deboches das ligas prateadas. 

— Antares, encontramos o orbe cadente! — afirmou uma voz masculina no comunicador — Vamos realizar a escolta agora mesmo!

— Coloquem o cinto nele, essa viagem será turbulenta!

Utilizando as rotas superiores e laterais, os seguranças foram guiados pelo rastro de luz amarela do objeto cadente que hipnotizava todas as estrelas nas redondezas. Nem mesmo eles, Antares e seu passageiro desorientado conseguiam acompanhá-lo num ritmo decente, e tentavam prever onde seria o seu local de pouso. 

    Graças a sua presença, muitos funcionários abriram caminho para que chegasse ao destino final, incluindo os operários que executavam atividades no local prometido. Ninguém queria sofrer os efeitos de um objeto moldado pelas mãos do próprio Ancião. 

    A área em questão era peculiar na visão dos seguranças, mas instigou a curiosidade de Cosmo quando presenciou, de maneira trêmula, o pouso da esfera dourada. O teto esférico foi obliterado, as carteiras quebradas tiravam o charme dos vitrais que restaram, e lembrou da última aula que deu para os quatro novatos em detenção. 

— A Cúpula da Iniciação? O que a esfera está fazendo lá? — Isso era algo que Cosmo estava prestes a descobrir. 

    A viagem seguiu tortuosa, mas o professor não precisa se preocupar em ser puxado por um veículo em alta velocidade pelas estradas nebulosas. Quando o time de seguranças entra em ação, nenhum motorista se atreve a ficar no caminho ou terá seu único meio de trabalho obliterado em poucos segundos. Desse modo, a rodovia foi liberada para a passagem do grupo.

    A forte sensação de calor quase os derrubou assim que se aproximaram da Cúpula, acompanhada do brilho incandescente que emulou, mesmo que fosse uma mera fração, o tom amarelado da Grande Morada. Todos estavam cientes do que estava acontecendo, apenas a lógica tinha dificuldade de juntar os pontos. 

— Antares, aquilo é…

— Sim, o nosso futuro está logo ali…

    O conceito de “futuro” parecia exagero naquela situação, mas as palavras de Antares fizeram sentido assim que o brilho enfraqueceu, e a aparência do objeto tornou-se visível.

— Quando esses orbes descem da Grande Morada, é sinal de que há um plano em mente para todos nós. Não sabemos o que está dentro daquela casca, mas ele contém a capacidade de escrever o destino do Conselho!

    Aquela “coisa” virou um momento tão importante quanto o show de um artista famoso ou debate político. Mas para gerar tamanha comoção tinha que ser algo estupendo e revolucionário, cuja história seria espalhada pelos cantos do universo e, com sorte, ultrapassar os limites da própria realidade 

    A aura dissipou, revelando a famosa estrutura de cinco pontas triangulares que girava num intervalo de dez segundos. Um simples receptáculo, mas diferente daqueles que residiam no Santuário das Estrelas.

   Foi a primeira vez que os funcionários viram uma estrela dourada. O presente deixado pela criatura mais próxima do que os mortais costumam chamar de Deus.

— O Ancião… Nos enviou um Escolhido! 

… 

    Estarem na presença de alguém enviado pelo Ancião deixou as estrelas alvoroçadas. Muitas apostas foram realizadas na intenção de descobrir se a pessoa em questão tinha quatro antenas, asas de dragão, ou quem sabe um gigante modesto demais para ficar num receptáculo dez vezes menor que o tamanho original. 

    Quanto ao Cosmo, nada passava pela cabeça além de que foi obrigado a se envolver em outra confusão. Qualquer erro mínimo e o presidente do Conselho faria algo pior que as punições da Ursa Maior. 

    A melhor decisão foi deixar que os profissionais fizessem seu trabalho e torcer para que a poeira abaixasse logo. Então, os seguranças cercaram a cúpula na finalidade de impedir que nenhum atrevido ou desavisado perdesse a segunda chance de vida da forma mais humilhante possível. 

    Inclusive, o grupo permaneceu em uma distância segura por conta do calor gerado pelo receptáculo, temendo em serem reduzidos a fragmentos estelares com o contato mais simples. Eles sabiam o que estavam fazendo.

— Não deixem que ninguém ultrapasse essa área! — aconselhou Antares aos seguranças. — Precisamos que o ambiente esteja seguro e apropriado para abrirmos o receptáculo.

— Espera… Vocês precisam abri-lo? — Cosmo perguntou, franzindo uma das sobrancelhas ao se virar para a melhor amiga. 

— Sim? É sério que não sabe de algo tão básico assim, você é um professor!

— Todos os receptáculos que chegam nesta cúpula se abrem no mesmo instante. Fora que nunca tive a chance de ensinar um Escolhido em toda a minha carreira! Mas tudo bem, eu sei que minha melhor amiga é experiente nessas coisas!

— Então, assim… — Antares virou os olhos para o canto direito e coçou a nuca, além das correntes decidirem se esconder em suas costas. 

— Eu não acredito. Você trabalha com a Diretora! Como você não sabe de uma coisa dessas?

— Me dê um crédito Carinha, não é todo dia que recebemos a visita de um Escolhido. Fora que a Ursa nunca me ensinou a quebrar o selo dos receptáculos de ouro, ela fazia isso sozinha! 

— Seus colegas devem saber como se faz! Eles conhecem tudo sobre… — Os defensores da lei e da ordem não souberam responder — Não sei como ainda estamos nessa empresa… 

— Olhem! Lá está o Escolhido! — Uma voz ecoou no horizonte, o indicativo que o caos estava prestes a começar. 

As ilhas mais próximas da cúpula estavam abarrotadas de pessoas dos mais diversos tipos e tamanhos, seus olhos focados no brilho incandescente do receptáculo de ouro. Todos queriam acompanhar o despertar do mais novo queridinho da companhia, mas alguns tinham intenções mais audaciosas. 

    — Tem muitas pessoas aqui… — comentou Cosmo ao encarar o exército de olhares famintos ao redor. 

— Isso é o de menos, nossa preocupação é com aqueles que sabem como o despertar funciona — Antares arqueou a postura, enrolando as correntes de prata nos ombros. O olhar franzido de uma guerreira antecipando o combate. 

 Os cochichos se alastraram em meio a multidão, e não demorou muito para que alguns corajosos saltarem das ilhas-asteroides. A distância era um mero detalhe desde que pudessem chegar mais perto. 

    Logo, o desejo de poucos se apossou de muitos funcionários, como o convite ideal para ignorar as regras em prol da chance mínima de conquistar alguma coisa. Seja fama, poder ou subir de cargo, apenas uma entre tantas estrelas teria a graça concedida se conseguir encostar no receptáculo. 

— Permaneçam firmes! — ordenou Antares com muita autoridade — Não deixem que cheguem perto da cúpula! 

— Sim senhora! — Os guardas responderam, sacando os estabilizadores no mesmo instante. 

O local de trabalho se tornou um campo de batalha em questão de segundos. Os funcionários sedentos de curiosidade agiam feito zumbis em busca de cérebros para saciar o apetite, se pendurando nas bordas da cúpula, além das inúmeras tentativas de pousarem por cima do teto circular. 

Houve aqueles que acharam uma boa ideia em tirar os seguranças do caminho na base da força bruta, mas ninguém teve o mesmo treinamento e agilidade. Já era óbvio qual dos lados levaria a pior.

Eles, por sua vez, tomaram a postura defensiva e o único objetivo era afastar o máximo de estrelas possíveis. Ao encostar no antebraço esquerdo, grandes barreiras azuladas se formaram ao redor da cúpula, na qual repeliram os invasores como uma mola improvisada. 

— Isso deve segurá-los por um tempo. Permaneça no carro Carinha, eu e os rapazes temos tudo sobre… — A confiança de Antares caiu por terra quando um funcionário atrevido pulou em suas costas, na tentativa de derrubá-la — Tá legal, vai ver o que é bom pra tosse! 

…

Se considerarmos como o tempo passa no planeta Terra, podemos dizer que Cosmo teve uma segunda-feira diferente do habitual. A falha no primeiro dia de aula, a insubordinação que resultou na aposta com a Diretora, uma briga extravagante de amigos e o pandemônio de estrelas desocupadas entrariam na lista de momentos icônicos do Conselho. 

Apesar de tudo, o tempo estava a disposição mais uma vez e seria utilizado para aliviar as preocupações com seu grande problema. Os seguranças batalhavam com tanta determinação que resolveriam o conflito em instantes, e como estava longe da zona de perigo, nenhum intruso poderia feri-lo ou chegar no receptáculo. Na verdade, não havia nada e ninguém entre eles. 

Foi então que tudo começou. 

Cosmo passou alguns minutos encarando a estrutura cristalina, e parecia hipnotizado pelo tom vívido de ouro. Seria a influência do Ancião que se fixou ao objeto? Ele não soube responder, apenas contou com a intuição enquanto era recepcionado pelo calor gradativo. 

O que poderia ser explicado com palavras virou gestou assim que abriu a porta do passageiro, os passos lentos e bem ordenados nos últimos degraus que levavam a entrada da cúpula. De maneira inconsciente, tinha aceitado o convite do receptáculo para chegar mais perto. 

— Parece… Que ele está me chamando… 

    O cérebro trabalhou para eliminar qualquer distração, com a luz incandescente sendo o foco total. O rapaz nunca viu algo tão atraente desde que assumiu o cargo de professor, mesmo que deu aulas à mulheres tão deslumbrantes quanto as joias mais caras da Terra. Mesmo assim, um simples objeto de cristal lhe chamou a atenção. 

— Cosmo, o que pensa que está fazendo? — questionou Antares enquanto amarrava um meliante com as correntes — Volte aqui ago… 

A mulher das mechas alaranjadas tentou avançar, mas colidiu com uma estrutura sólida e tão quente que se afastou no mesmo instante. Levou alguns minutos excruciantes pela queimação para entender que uma redoma se formou por toda a cúpula, aprisionando Cosmo com o Escolhido. 

Os seguranças golpearam o domo amarelado inúmeras vezes, com os estabilizadores configurados na potência máxima para garantir um dano rápido e efetivo. A insistência mostrou-se a pior decisão que tomaram, os rostos pálidos como a lua percebendo que tudo foi em vão. 

A esfera de energia na ponta dos bastões ficou tão comprometida que se partiu, se reduzindo a uma pasta viscosa como gelo em contato com a brasa ardente. Os esforços foram inúteis e o único jeito de remover a barreira era abrir o selo do receptáculo. 

Naquele momento, apenas uma pessoa podia fazê-lo. 

— Que sensação engraçada… É como se eu tivesse sentido isso há muito tempo… — disse Cosmo ao estirar o braço esquerdo. 

O toque era firme e proporcionava uma sensação de conforto inexplicável ao professor, como se fosse a única estrela digna o bastante para destravar o selo especial. O alívio foi momentâneo e deu brecha para os olhos castanhos fitarem o objeto, querendo ser o ponto central de atenção.

    De repente, a luz se intensificou, o tom fascinante de ouro refletido em serpentinas dançando em frenesi ao redor da estrela que começou a flutuar, levando o rapaz de roupas chiques no processo.

— Cosmo, por favor, não toque nisso! — Antares repetiu este e inúmeras frases com a entonação tremula, mas era tarde demais. 

    Os guardas se amontoaram ao redor da cúpula e iriam caso fosse necessário. A multidão demonstrou os primeiros sinais de medo enquanto a fiel escudeira da Ursa Maior o nome do amigo na esperança de ter alguma resposta. 

    Ninguém seria capaz de alcançá-lo. O corpo parecia leve como uma pluma, a sensação de nostalgia causada pela  energia peculiar do objeto pontiagudo. Os problemas de minutos atrás pareciam irrelevantes, nada importava mais do que aquele momento, da conexão inesperada entre Cosmo e a pessoa do receptáculo. 

— Onde eu vi isso antes?

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