O Conselho das Estrelas - Volume 01 - Bem Vindos ao Conselho! - Capítulo 11

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11: Pensamentos Confusos.

   Existem pessoas que foram bem sucedidas na vida passada. Aqueles que receberam a benção de uma boa memória falavam de quando escreveram músicas de prestígio, fizeram pesquisas para a cura de doenças letais, ou foram políticos que dedicaram anos de estudo e perseverança até chegarem ao poder. 

 No Conselho das Estrelas, todos possuem o dever de proteger a galáxia a qualquer custo. As conquistas não passavam de fragmentos de um momento distante, então muitos que tiveram uma vida maravilhosa e resultante de truques sujos foram obrigados a aprender o conceito de humildade se quisessem mostrar sua utilidade para a corporação. 

 O Ancião e as constelações são as maiores autoridades, no entanto, permaneciam ocupados no gerenciamento das próprias filiais. Neste caso, a admiração dos funcionários comuns caía nas costas dos Escolhidos. 

 Todos acreditavam que eram presentes vindos dos céus, e queriam trazê-los aos seus respectivos setores para estarem próximos da majestosidade do próprio sol. Uma galáxia inteira se uniu com a chegada da mais nova salvadora, a agitação igual aos fã-clubes mais ardorosos de bandas asiáticas. 

 A jovem dos cabelos crespos, por sua vez, não pôde conter a tremedeira nas mãos, os olhos arregalados na tentativa de descobrir a quantidade de pessoas no local. Ela não sabia onde estava, nem o motivo de haver uma infinidade de olhares famintos na sua direção. 

— Aquelas pontes estão flutuando? Isso não devia ser possível! Espera, será que eu… — A moça seguiu relutante até um vitral estraçalhado e olhou para baixo, vislumbrando a imensidão do ambiente estelar. — Eu estou flutuando! — Ela recuou para trás após o grito estridente — Okay gata, não entre em pânico. Eu só preciso concentrar minhas energias e…

 Andreia se sentou e diminuiu a respiração. As mãos se apoiaram nas pernas cruzadas e os olhos se fecharam para focar nos pensamentos mais tranquilos que pudesse angariar. Todos esperavam por algo substancial após o despertar, mas ficaram confusos ao vê-la repetir dialetos aleatórios como um tipo de meditação. 

— O que ela está fazendo? Eu quero um discurso! — suplicou um dos transportadores. 

— Ela deve estar usando seus poderes! Que emoção! — afirmou uma médica entusiasmada. 

    Cosmo e Antares sabiam que aquela era uma reação comum quando se coloca os pés no Conselho pela primeira vez. Todo novato precisava manter a calma acima de tudo, assim revelação do Pós-Vida seria mais fácil de digerir. 

— Estou surpresa que ela está tentando, qualquer um teria perdido a cabeça a essa altura… — disse Antares para Cosmo, enquanto observavam a menina. 

— Parem de falar, estou meditando! — bufou Andreia após perder a linha de raciocínio. — Eu sou uma nuvem fofa… Eu sou uma nuvem fofa… 

— Receio que isso só vai te deixar ainda mais nervosa… — alertou Cosmo, sendo cuidadoso para não elevar o nível de estresse dela.

— Vai funcionar se fecharem essa matraca!  Não viram que eu quero acordar do sonho? 

— Eu não sei se já percebeu, mas isso aqui não é um sonho…

— Claro que é! Não existem pessoas tão elegantes assim no espaço, muito menos casas, veículos ou todas essas parafernalhas! 

— Isso aqui é muito mais do que um simples sonho, estamos falando do lugar mais importante de todos! — afirmou Cosmo. — Olhe ao seu redor, todas as pessoas que nos observam são peças fundamentais para manter a galáxia em segurança, então se até hoje nada aconteceu com ela, os méritos ficam para todos nós. 

— Isso quer dizer que por causa de vocês, nenhuma raça de outro mundo veio nos escravizar? 

— Digamos que eles não gostam de seguir as Leis de Viagem e Circulação Interplanetárias, mas odeiam mais o nosso sistema judiciário — disse Antares de tom humorado. 

— Ainda não estou entendendo! O que eu tenho haver com isso? 

— A resposta é simples, você foi escolhida pelo nosso amado presidente para se unir ao nosso glorioso propósito. Existe um potencial gigantesco dentro de você Andreia, e isso pode ser a chave para a prosperidade do universo! 

 Nenhum dialeto sobre nuvens fofas traria Andreia de volta à razão depois de ouvir a maior loucura de sua vida. Já viu filmes e livros onde pessoas normais foram enviadas para outros mundos e recebiam títulos extravagantes como “O Herói da Profecia”, então nunca havia imaginado que tais histórias pudessem ser reais, até agora. 

 Os pensamentos flutuavam de maneira caótica na cabeça da garota, verificando se valeria a pena expor as dúvidas mais coerentes primeiro, ou perguntar sobre todas as insanidades que pudesse imaginar. Independente da escolha, o sorriso forçado denunciou como iria reagir às respostas. 

— As coisas podem estar confusas agora, mas vamos te ajudar a passar por esse momento de descoberta. Eu e a Antares somos praticamente uma dupla dinâmica, então o que pode dar erra… 

— Saiam da frente, bando de selvagens! — Uma voz debochada ecoou ao longe, no meio da rodovia nebulosa.

Um veículo se aproximava da Cúpula da Iniciação tão veloz quanto um leopardo, algo que impressionou a todos pela condição deplorável. Pequenos fragmentos da pintura desbotada se soltavam da estrutura, enquanto jogavam tudo no caminho para fora da pista fumacenta. 

— Vamos passar por cima deles, como pinos de boliches! — ordenou a garotinha no banco de trás. 

— Pisa fundo no acelerador! — falou a segunda passageira. — Não deixe ninguém sair ileso! 

  As intrusas nem se importaram com a possibilidade de atropelar inocentes e causar mais transtornos enquanto os gestores seguiam focados na reunião. Os seguranças precisaram lidar com a situação, mesmo que um frio na barriga indicasse o contrário. 

 Aqueles que permaneceram dentro dos veículos ficaram atentos à sucata feroz na esperança de prever sua trajetória, porém, não conseguiram arrumar uma postura mais defensiva. Eles sabiam a identidade daquelas arruaceiras, e não tiveram escolha além de rezar para que o impacto fosse menos avassalador. 

— Elas não… De novo não! — gritou um segurança em desespero.

 Após longos minutos, o carro deu uma derrapada brusca e se chocou nos veículos de maneira enfileirada, cuja velocidade foi o suficiente para arremessá-los com força total. A motorista deu marcha-ré para estacionar na entrada da cúpula, como se não tivesse cometido uma série de infrações no trânsito. 

Assim que desceram, três meninas verificaram se havia poeira nos vestidos azul marinho com adornos esbranquiçados, ou se os cabelos estavam desarrumados após as batidas, mas saíram ilesas de maneira inexplicável. 

 A atitude correta era denunciá-las às autoridades, mas ninguém teve coragem de fazer uma simples ocorrência — ainda mais com seguranças massacrados sem piedade. Todos conheciam aquelas garotas, e por isso, manter distância foi a melhor decisão para manterem a integridade física e mental. 

 Os caninos superiores, as garras afiadas e sorrisos maliciosos paralisaram os funcionários de imediato, com exceção de Andreia que achou esquisito ver três garotinhas vestindo trajes da época vitoriana. As Ursas Menores entraram na cena com um único objetivo: arranjar confusão. 

— Quem mandou vocês pararem? — resmungou a ursa de cabelos azuis — Voltem ao trabalho, seus vagabundos! 

… 

— Aquela é a menina? — questionou a menina das mechas avermelhadas com tom de desdém. — Para alguém que o velhote escolheu, achei que estaria mais arrumada.

— Ela caiu da cama e bateu a cabeça! — indagou a pequena ursa dos cabelos esverdeados. — Essa é a minha aposta!

— Essa não, o que elas estão fazendo aqui? — As pupilas de Antares tremiam só de olhar para as ursas. — Achei que tinha trancado o escritório com força total.

— Você trancou as Ursas Menores? Mas não deveriam estar na reunião? — questionou Cosmo. 

— A Ursa Maior não queria interrupções desnecessárias, então as deixou de fora da reunião. Eu deveria ter tomado conta das três, mas não pude ficar parada quando descobri sua pequena tramoia com a Dona Cleonice… 

— Dêem licença figurantes! — falaram as três empurrando Cosmo e Antares para o lado. — Deixem isso para as profissionais! — O trio se aproximou de Andreia com olhares analíticos, escolhendo as palavras certas para comentar a respeito da camisola ou do formato curvilíneo do cabelo. 

 De todas as coisas que testemunhou até o momento, a coisa mais estranha para a morena foi ser recepcionada por garotas meigas que falavam igual à patricinhas do ensino fundamental. Mesmo assim, manteve o sorriso largo e dançou conforme a música, reunindo esperanças de que aquele “sonho” terminasse o mais rápido possível. 

— Lembrem-se meninas, como nós ensaiamos — sussurrou a primeira ursa, transformando o deboche num tom mais convidativo. — Boas vindas queridinha, tudo bem? Estávamos ansiosas pela sua chegada!

— U-uma bebê ursa tá falando comigo… — Andreia insistia em ligar os pontos, mas a toda conclusão vinha com mais perguntas. 

— Do que você me cha… Quer dizer, isso mesmo! Não é todo dia que você fica na presença de três ursinhas esplendorosas, estou certa meninas?

— Falou e disse! — falou a ursa dos cabelos avermelhados — E nós viemos para te guiar em seu primeiro dia no lugar onde toda a existência começou. Bem vinda ao Conselho das Estrelas!

— O Conselho do quê?

— O Conselho das Estrelas, onde todos vivemos numa jornada infinita de trabalho para impedir que outro Big Bang destrua o universo! — A garota de cabelos esverdeados saltou entusiasmada, como se isso fosse algo positivo — E você foi escolhida pelo nosso patrão para nos ajudar. Parabéns para você, fofinha! 

 Ao perceber que ela apontava para o sol, era de se imaginar que seria o tal presidente que Cosmo havia mencionado. Uma pessoa normal veria a situação de forma cética e usaria a lógica para explicar como aquilo não passava de besteira, mas as funcionalidades cerebrais de Andreia se recusaram a funcionar. Na verdade, havia paralisado com o excesso de informações. 

Qualquer tentativa de protesto ou questionamentos seriam expressados de maneira errônea e confusa, porque não sabia como reagir mediante a convicção na fala das Ursas Menores. Agora, nem tinha certeza de que estava sonhando ou se o pior aconteceu. 

— Opa, eu acho que quebramos ela! — Comentou a ursa de cabelos azuis com suas irmãs. — Não quero nem ver que cara ela vai fazer quando souber que morreu…

— Espera… Eu morri? — As palavras saíram com dificuldade, mas fisgou a atenção das meninas no mesmo instante. 

— Eu não disse nada queridinha. Mas já vi que é do tipo de saca as coisas rapidinho né? Isso aí, não só você mas esses selva… N-nobres humanos também passaram desta para melhor.

— Bateram as botas! Mortinhos da silva! — Continuou a garotinha de cabelos vermelhos, expressando um sorriso amedrontador.

— Atenderam ao chamado do além! — A última das irmãs terminou, as mechas esverdeadas balançando junto as mãos para colocar ênfase em sua resposta.

 As Ursas Menores riram das próprias falas como se fosse a coisa mais engraçada do universo, mas não perceberam que o estado emocional da novata se agravou. Ninguém seria capaz de manter a calma em saber que sofreu uma fatalidade, deixando amigos, família e sonhos para trás. 

Andreia recuou na esperança de encontrar algo para se apoiar. Aquela era sua última tentativa de manter as aparências, pois se ocorrer o caso de despencar no chão, iria ceder as únicas coisas que faziam sentido naquele momento: o medo, a angústia e a negação dos fatos. 

— Já chega, deixem a garota em paz! — Antares gritou, se colocando na frente das Ursas Menores.

— Ela tem muita coisa para assimilar, não façam as coisas ficarem piores do que já estão! — concluiu Cosmo. 

— E você não tinha que estar em outro lugar, Cosmozinho? — debochou a ursa das mechas verdes — Espero que não esteja pensando em usar a garota para desfazer sua aposta, nem mesmo o mais catarrento daqui teria uma atitude tão baixa! 

— Calem a boca… — sussurrou Andreia com as mãos nos ouvidos. 

— Isso não importa agora. — complementou Antares. — O foco principal é introduzir a Escolhida ao Conselho. Vocês não estão sendo profissionais em assustá-la desta maneira, só mostram como a Ursa fracassou em ensinar boas maneiras! 

— Falou a mulher tão profissional que colocou quatro armários e um cadeado de adamantium na porta do escritório para nos aprisionar! — retrucou a garota de cabelo vermelho. — Você está sendo uma péssima irmã mais velha! 

— Onde você arranjou quatro armários? — questionou Cosmo.

O que está acontecendo? Eles não param de falar… — Os ouvidos de Andreia seguiram tampados para abafar a cacofonia de vozes, mas sem sucesso. 

Cosmo, Antares e as Ursas Menores discutiam como parentes de terceiro grau prestes a arruinar o almoço de domingo com uma guerra de comida, mas o problema era mais delicado. Os murmúrios vinham das pessoas que mantiveram os olhos bem atentos na tão venerada Escolhida. 

Por favor, parem com isso! Eu só queria…

De primeira, nenhuma palavra foi proferida além das barbaridades que as três garotas imaginaram para humilhar a “irmã mais velha” e o jovem professor, mas Andreia assimilou tudo que eles sentiam há quilômetros de distância. 

Olha o tamanho daquelas unhas, que coisa horrorosa! É melhor que ela corte senão vai acumular bactérias! 

Que rostinho mais fofo! Me segurem pois estou a um passo de apertar aquelas bochechas! 

Eu não estou impressionado. Ela não é uma das campeãs do Ancião? Porque não vimos os poderes dela? Aposto que está com medo.

   Vozes de diferentes sotaques e tonalidades se misturavam dentro do subconsciente de Andreia, e a julgar pela quantidade de pessoas, a sinfonia ensurdecedora não acabaria tão cedo. Além disso, seria impossível conter pensamentos que surgiam de forma incontrolável e conquistar o silêncio absoluto. 

   Ela não quis abrir os olhos, acreditando que havia uma chance mínima de retornar a normalidade, tudo que precisava fazer era retomar o controle dos pensamentos e desejar que o caos terminasse de vez. 

— Calem a boca! Eu não ligo para o que falam sobre minhas unhas, as minhas bochechas ou se tenho poderes, só calem a boca de uma vez!  — E de repente, o vazio se proliferou no ambiente e entregou para Andreia a quietude que tanto desejava. 

Ela pensou que o sonho havia terminado, e não se importava em ser despertada pelo barulho irritante do despertador para começar outro dia, até abrir os olhos. A respiração acelerou em resposta à cena que estava presenciando. A mesma cúpula detonada, as pontes flutuantes que conectam  as gigantescas ilhas de rocha espacial, e milhares de estrelas que foram jogadas ao silêncio profundo.

Todos a encaravam, sem dizer nada…

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