O Sétimo Espelho - Capítulo 14
Reivindicado
— Pobrezinho… primeiro a mãe, depois essa tragédia com o pai… Quem vai cuidar das crianças agora?
— Dizem que o menino vai ficar com o tio. O irmão do Arthur. Porque do outro lado… cê sabe, né? Deus me perdoe, mas tem coisa aí que só pode ser castigo.
As vozes sussurravam sobre o passado e sobre o que não sabiam. Para mim, aquilo não era exatamente uma novidade. Soava como o zumbido das lâmpadas da igreja ou o chiado do rádio da casa da vó, apenas mais um som chato do qual não podia me livrar.
“Não liga para isso, meu amor”. Era o que minha mãe sempre dizia, mas eu não conseguia entender. As pessoas cochichavam o nome dela como quem fala sobre uma praga de insetos. Nas filas do supermercado, nas reuniões de pais ou durante os jantares de domingo, sempre havia alguém com algo a dizer, mesmo que ninguém tivesse perguntado.
As mentiras e os risos disfarçados nos perseguiam por toda parte. Papai era o único que nos defendia. Agora, ele também tinha ido embora.
— Ei garoto, precisa de ajuda? Posso dar um jeito nelas… Eu nem vou pedir muito em troca.
Olhei para os sapatos cobertos de lama. A voz vinha dali. Isso também não era novidade. Elas sempre estiveram lá: rastejando nas sombras, nos cantos das paredes, ou entre os suspiros do vento. Mas depois que mamãe se foi, tudo piorou.
— Tinho, vem. Vamos sair da chuva. Se você pegar um resfriado, a tia Luísa vai ficar brava comigo. E se ela proibir a gente de usar a oficina de novo, hein?
O tio Antônio tentou sorrir. Era um bom homem, mesmo que não soubesse o que fazer comigo. Ainda assim, havia algo errado naquele gesto forçado, naquele “tudo vai ficar bem” que soava vazio e deixava um gosto amargo no ar.
— Esse aqui não é muito melhor do que aquelas lá atrás, cê sabe… — Aquilo sussurrou, enroscando uma língua pegajosa no calcanhar do homem. — Ele vai jogar tudo isso na sua cara mais cedo ou mais tarde. Depois vai começar a pedir favores. Fico aqui imaginando o que esse monte de banhas vai fazer com um pivetinho bonito igual a você…
— O carro está logo ali. — Meu tio apontou para o outro lado da rua.
Assenti, mas não consegui erguer o olhar. Não tinha certeza se era um espírito, um fantasma ou um demônio, só sabia que não era bom. Esse tipo de coisa aparecia com mais frequência em lugares como esse. Mamãe dizia que elas adoram o gosto do ressentimento dos mortos, mas preferem o sabor do sofrimento dos vivos.
Acho que é por isso que haviam tantos no hospital também. “Desculpa papai, eu quero muito ir embora, parece que todos os túmulos estão olhando pra mim”, pensei, sem conseguir virar para trás e me despedir direito.
Um arrepio percorreu a espinha. A criatura encarava enquanto escalava as roupas do tio. Faltavam dentes na boca escancarada, mas os que restavam eram tão pontudos quanto os de um cachorro. Seus ossos se moviam em ângulos impossíveis sob a carne podre, rangendo a cada movimento. Partes da pele se esticavam até rasgar, enquanto outras pendiam frouxas, como se a carcaça de um animal tivesse vestido a pele esfolada de um homem.
— Vamos atravessar.
O tio estendeu a mão e um sorriso cansado levantou as pontas do bigode. Ele queria ajudar, mas não deu muito certo. Seus dedos, principalmente o anelar, estavam cobertos de manchas verdes. Pareciam aquelas que cresciam atrás dos móveis e nas paredes da casa da vó, só que estavam brotando por dentro e por fora da carne, dessa vez.
Cruz sagrada seja minha Luz”, rezei em silêncio, apertando a medalha de São Bento que o pai me deu. A criatura continuava com aqueles olhos abissais fixos em mim, analisando todos os gestos e reações, esperando um deslize para atacar. Se ele percebesse que eu podia vê-lo, seria o fim.
Engoli o choro, mas foi difícil conter a ânsia quando aqueles dedos úmidos atravessaram a pele do tio e se entrelaçaram aos meus.
Senti o chão sumir debaixo dos pés quando aquilo inclinou a cabeça e sorriu. “Não seja o Dragão meu guia”, continuei, mas não adiantou muito. Tufos ralos e sebosos de cabelos se enroscaram em nossos braços. Um calafrio percorreu minha espinha, molhando a gola da camisa com suor. A dor veio logo depois, na forma de três arranhões profundos no dorso da minha mão. O sangue escorreu entre nossos dedos, mas o tio não percebeu. Na verdade, ele não podia.
Ele não era alguém amaldiçoado como eu ou como…
— Laura… — O nome saiu engasgado.
Tampei a boca tarde demais. O guarda-chuva se inclinou e gotas frias caíram no meu rosto. Não sabia se era a chuva ou o bafo úmido da criatura, agora a centímetros de mim. “Retira-te Satanás”, apertei com força o amuleto dentro do bolso.
— Laura? Esse não é o seu nome, é? — o sussurro escorreu pelas orelhas, quente e úmido. — Não… Seja um bom menino e me diga o seu nome de verdade… Eu posso te ajudar, se disser.
— Por Deus! Você devia ter falado que estava com frio. Aqui, veste o paletó.
Balancei a cabeça, mas ele insistiu. O casaco, frio e pesado, caiu sobre meus ombros sem trazer nenhum conforto. Quis dizer que não estava com frio, que se fosse o pai ele entenderia o que estava acontecendo e que o tio jamais poderia ajudar, mas ele não precisava saber nada disso. Ninguém deveria. Uma promessa é uma promessa
— Pobrezinho… tá com medo? — a voz sibilou, e uma língua fria roçou minha bochecha. — Mas eu não vou te machucar. Ainda não.
“Nunca… nunca…”. Os versos que eu sabia de cor se dissolveram dentro do pânico. Prendi a respiração e fechei os olhos enquanto o toque asqueroso queimava a pele. A criatura se desprendeu do tio e se contorceu até ficar empoleirada sobre mim. Queria correr, mas as pernas não obedeciam, também não podia gritar e por isso fiz a única coisa que sabia fazer:
“Mãe…”.
Abri a boca, mas o som não saiu. As pessoas, os carros, a chuva e eu. O mundo inteiro ficou em silêncio. Até aquela coisa parou com as provocações e agora, tremia escondida atrás de mim. Achei que algo ainda pior estivesse por perto, mas não era isso. Todas elas estavam apavoradas, rastejando de volta para as sombras.
Foi então que a vi. O tempo tinha se curvado diante dela igual a vovó me obrigava a fazer durante a missa.
— Se me permite. — A mulher sussurrou, tão fantástica quanto a figura que caminhava obediente ao seu lado.
Ela se abaixou e afastou o guarda-chuva. Seus dedos tocaram meu rosto, tão frios que senti a pele queimar. Doía, mas não era desagradável como o toque daquela criatura. Na verdade, tinha algo de familiar.
— Prontinho. Era só uma sujeirinha. — A voz parecia vir de dentro da minha cabeça, não sei bem como explicar, mas era como se apenas eu pudesse ouvi-la.
O tio sorriu sem graça, sem entender o que estava acontecendo.
Eu o ignorei, a atenção estava em outro lugar. Era assustador, de fato, e talvez fosse melhor que ninguém o visse. Porém, existia uma certa satisfação em saber que era o único que podia.
“Droga”, abaixei a cabeça.
Aquilo caminhou devagar e sentou ao meu lado, deixando um rastro de pegadas enormes queimadas na terra. “Ele não notou, né?”, encolhi os ombros, rezando para que tivesse passado despercebido.
— Não se preocupe. — A mulher piscou, como se adivinhasse os pensamentos. — Ele é só um gatinho.
Arregalei os olhos e o tio Antônio fez o mesmo.
— C-como disse? — Seus bigodes tremeram de leve.
O “gatinho” bocejou e de dentro do crânio escalpelado, brotaram quatro fileiras de dentes, coroadas por pares de caninos enormes. Não era um gato. Talvez um leão. Ou o que restava de um.
Ele coçou a juba escura, quase preta e alguns fios dourados denunciaram o que um dia, teria sido a cor original de seus pelos. Os olhos eram verdes, assim como os da mulher, mas não tinham pálpebras e vários buracos de tamanhos diferentes fendiam a carne apodrecida, mostrando ossos e entranhas pulsantes.
— É… bom, nós estamos atrasados, então… Heitor, agradeça a moça.
O tio me cutucou. Foi aí que percebi: o peso nas costas tinha sumido. As sombras, também.
“Como ela fez isso?”
— Heitor… — A mulher repetiu e uma corrente elétrica atravessou meu corpo. — Você tem um nome bonito. Combina contigo, mas não o diga a estranhos, tudo bem?
Assenti. Suas palavras soavam como uma ordem.
— Que bom menino. Já que não somos mais estranhos… posso te dizer o meu também. Aí, quando uma sujeirinha dessas grudar em você de novo, é só me chamar.
Levantei a cabeça e nossos olhos se encontraram. O verde neles brilhava mais do que o vitral da capela ao fundo. Eles me distraíram, enfeitiçaram e talvez por isso eu tenha entendido, mesmo sem que ela dissesse uma única palavra, o nome da mulher que havia me reivindicado para si.
***
— Esse sonho de novo… — O inspetor tocou a bochecha.
— Dominó!!! Você finalmente acordou!!
Um vulto quase tão grande quanto aquele que o tinha esmagado na caverna saltou sobre Heitor. A diferença foi que ao invés de pelos negros, foram tufos castanhos que encheram sua visão antes que uma dor aguda terminasse de o despertar. As costelas protestaram e ele tentou afastar os braços do homem que tinha começado a chorar, mas não teve muito sucesso.
— Porra, isso doí.
A força de Ricardo e seu bom senso eram inversamente proporcionais.
— Desculpa. Ai meu Deus! Nem acredito que você acordou!! Eu tava tão preocupado! Vou chamar a enfermeira.
— Tá, tá. Vai logo — respondeu, massageando os flancos.
— Não se mexe, entendeu?
Heitor passou a mão pelo rosto tentando entender se estava mesmo vivo. No entanto, o cheiro de álcool e o incômodo onde a agulha espetava a mão eram familiares demais para que isso tudo fosse uma ilusão do pós vida.
— Como eu saí daquele lugar?
Uma tosse seca acompanhou o murmúrio e ele esfregou a garganta ao mesmo tempo em que uma mulher vestida de branco entrou pela sala, seguida de perto pelo galã chorão.
— Que bom que está acordado, senhor Heitor. Fique tranquilo, o pior já passou. — A enfermeira fez um muxoxo impaciente, empurrando Ricardo de lado para checar os aparelhos e anotar algo no prontuário. — Agora o senhor só precisa descansar.
Ela olhou feio por cima do ombro, e Cruz sorriu como se não estivesse tentando ler os papeis. Heitor não pôde evitar sentir uma onda de empatia pela mulher. Ele teria que se desculpar pelo comportamento do amigo depois.
— Com licença… — murmurou, observando o tubo transparente preso à mão. — Quanto tempo eu fiquei apagado?
— Dois dias — Ricardo respondeu antes que a enfermeira pudesse abrir a boca. — Dois dias inteiros! Eu achei que você não ia mais acordar!
O homem alto e atlético se encolheu como uma criança, agachada na beirada da cama do inspetor. Ele fungava de forma copiosa atrás das mãos que cobriam o rosto bagunçado. Apesar do exagero, Heitor sabia o quanto ele deve ter se preocupado com toda a situação e por isso resolveu relevar a atitude infantil.
— Entendi. E onde estão minhas coisas? — Heitor olhou para a enfermeira que sorriu antes de sair da sala. — E você… Dá para parar com isso e levantar de uma vez? O que aconteceu depois que…
Ele parou. O som da mina desabando ecoou em sua mente como se tivesse acabado de acontecer. As vozes, o ar tomado por poeira, o corpo esmagado contra o chão. Era difícil de acreditar que estava mesmo vivo depois disso tudo.
— Uma ligação anônima… — Ricardo começou a explicar, puxando uma cadeira e se sentando de lado. — Disseram que ouviram um estrondo seguido de um tremor vindo do parque. Um estouro enorme, tipo uma explosão.
— O desabamento… — Heitor murmurou, mais para si do que para o outro.
— Pois é. Parece que isso já tinha acontecido antes quando uma parte dos túneis desabou. Por isso a pessoa ligou para os bombeiros. Quando eles subiram a trilha encontraram vocês e o senhor cobertos de terra e pedra na entrada da mina
Heitor abaixou o olhar para o próprio peito, notando a faixa larga enfaixando as costelas. Cada respiração doía e falar não ajudava muito, mas tinha algo que o incomodava ainda mais.
— E como está o Jorge?
Ricardo suspirou, coçando a nuca:
— Tá vivo, mas não acordou ainda. Os médicos tão dizendo que ele sofreu um trauma forte na cabeça. Você, por outro lado… — Ele gesticulou com as mãos de forma teatral. — Duas costelas fraturadas, uma concussão leve, corte feio na cabeça e um show de hematomas. Sério, parece que lutou com um rinoceronte bêbado.
Heitor soltou um resmungo, tentando rir sem doer. Passou a mão pela nuca e sentiu o volume do curativo, a pele sensível sob o pano.
— E o Ramon? Ele está internado aqui também?
— Quem? — Ricardo franziu o cenho.
— Ramon. O policial que a delegacia regional designou pro caso. Ele foi comigo e com o Jorge até a mina.
— Não tinha ninguém mais lá. Só você e o velho. — Ricardo parou de balançar a perna. — Os bombeiros não encontraram nenhum corpo, nem sinal de outra pessoa.
— Isso é impossível. — A voz do inspetor saiu rouca. — Nós três entramos na mina e o Ramon estava lá quando tudo começou a desabar.
Ricardo se ajeitou na cadeira, desconfortável.
— Talvez ele tenha conseguido sair. Posso perguntar pro pessoal da equipe, se…
— Não. — Heitor o interrompeu, os olhos arregalaram de repente. — Se ele não saiu… ele ainda tá lá. A gente precisar ajudar…
O bip do monitor cardíaco acelerou quando tentou se levantar. Ricardo saltou da cadeira e dessa vez, com mais delicadeza, o forçou a voltar para a cama.
— Ei, calma, cara! Você acabou de acordar, não vai ajudar em nada se tiver um troço no meio do caminho!
Heitor tentou se soltar, mas a dor nas costelas o obrigou a deitar de novo.
— Você tem que avisar os bombeiros. — O tom era urgente, mas a voz era quase um sussurro. — Eles precisam voltar lá.
Cruz hesitou, olhando de um lado para o outro, como se esperasse que alguém aparecesse para aplicar um sedativo no amigo. Ele mesmo teria aplicado se tivesse um e o pensamento pouco ortodoxo o levou a fazer uma anotação mental perigosa.
— Tá, tá. Eu vou falar com o pessoal. — O investigador deu um olhar cobiçoso para a enfermeira que tinha acabado de voltar e um arrepio estranho percorreu a espinha de Heitor. — E você fica deitado, ouviu? Se eu ouvir que tentou sair daqui vou te amarrar nessa cama.
A mulher piscou algumas vezes, mas desistiu de tentar entender. Depois de um suspiro cansado deixou os pertences do policial sobre a mesa de cabeceira e saiu apressada do quarto sem dar maiores explicações. Esses dois dias não devem ter sido muito fáceis, Cordeiro pensou, novamente anotando a tarefa de se desculpar com a equipe médica pelos rompantes do amigo.
Ele suspirou ao vasculhar os bolsos das roupas sujas de sangue. O gravador parecia intacto, apesar de não querer ligar. Já o celular não teve tanta sorte. Além deles, encontrou o distintivo amassado e um pequeno sino. Sua arma, no entanto, havia sumido.
— Isso não tá certo — murmurou ao analisar o objeto de metal.
Se tinha uma coisa que podia atestar além da loucura do amigo, era sua habilidade em descobrir informações sigilosas. Um de seus passatempos favoritos era revisar relatórios secretos, analisar códigos e descriptografar mensagens extra oficiais, mesmo que estivessem bem acima do que sua patente permitia acessar.
Ele nunca foi “pego”, mas Heitor acreditava que alguém importante o estava acobertando, só não estava claro o porquê.
De qualquer forma, um acidente como esse, envolvendo um policial e uma cena de crime não solucionado, era um prato cheio para teóricos conspiracionistas. Principalmente quando o próprio prefeito tinha interesse particular no caso. Era impossível que Ricardo não tivesse vasculhado até a última página do relatório oficial nesses dois dias em que ele esteve apagado.
— Eles omitiram a ida do Ferreira nos relatórios? Mas porquê?
Heitor fechou os olhos. O coração martelava no peito, não apenas pela dor, mas pelos flashes e lembranças confusas daquele instante. A voz que o chamou no túnel estava mais profunda do que o normal, mas os olhos brilhavam exatamente como os de Ramon. O problema é que aquilo não era humano.
— O que diabos está acontecendo aqui?
Uma sensação ruim passou pela mente do inspetor e o som do monitor voltou a ficar instável, quebrando o silêncio pesado que tomava conta do quarto do hospital.
Heitor levantou depressa da cama e logo se arrependeu. Depois de alguns minutos respirando fundo, resistiu a dor pulsante nas costelas e com dificuldade, se arrastou pelo corredor até o banheiro. Sua situação não era a das melhores e acabou atraindo os olhares desconfiados de alguns enfermeiros, mas por sorte, ninguém o confrontou.
Assim que entrou na cabine a trancou, tirando das dobras do traje hospitalar o gravador aparentemente intacto. O problema é que ele sabia reconhecer um “aparentemente” quando via um. O dispositivo era pequeno e na lateral, o minúsculo compartimento do cartão de memória guardava o seu “segredo”. Esperava sinceramente que estivesse pensando demais, mas precisava ter certeza.
Um ano antes, depois de um vazamento interno, Heitor criou um método pessoal para verificar se suas provas eram violadas: colava uma tira fina de fita crepe sobre o slot do cartão de memória e desenhava uma linha tracejada com caneta preta, cruzando a fita e o corpo de plástico do aparelho.
Simples, mas infalível. Se alguém removesse o cartão, por maior que fosse o cuidado, a linha se partiria.
O Inspetor franziu a testa. O polegar deslizou sobre o plástico e parou. Seu coração deu um salto seco no peito e o estômago revirou. A fita ainda estava lá, mas a linha havia sido interrompida. O traço terminava abruptamente antes de retomar um milímetro acima, sutil demais para ser obra do acaso. O tipo de precisão que só quem sabia exatamente o que estava fazendo conseguiria reproduzir.
Alguém havia removido o cartão de memória.
Heitor virou o gravador para a luz. A fita estava ligeiramente repuxada, o que sugeria que a pessoa que a violou tentou retirá-la com o máximo de cuidado possível para não deixar vestígios óbvios, antes de recolocá-la no lugar.
— Porra! — sibilou entre dentes, apertando o gravador com tanta força que o plástico estalou.
Ele guardou o objeto entre as dobras da roupa e voltou para o quarto tentando evitar os olhares discretos dos enfermeiros. A sensação de estar sendo observado já não parecia uma coincidência. Era inegável que alguém mexeu em suas coisas, mas qual o objetivo? Essa era a grande questão, mas de uma coisa tinha certeza, isso só estava começando.